sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Semelhanças, heranças, etc

As vezes quando me olho no espelho, vejo nele sua imagem refletida. Seu rosto, na forma em que me lembro, quando eu tinha uns doze, treze anos e ela deveria ter a idade que eu tenho hoje. Me pego fazendo gestos tais quais ela fazia, ou usando uma expressão tipicamente sua. Acho que são coisas que a gente guarda bem lá no fundo, no inconsciente, e termina repetindo um dia, quando menos esperamos. Coisas que herdamos de mãe. Me vejo repetindo minha mãe, sempre. Até em coisas que eu odiava. A gente é filha de nossas mães por um bom tempo...O tempo que dura nossas vidas. Aprende tantas coisas com elas, suas manhas, suas manias, suas qualidades, suas bravuras e bravatas. De repente os papéis são invertidos e a gente vira meio que mãe de nossa mãe. Ela já está velha, cansada, precisando de nossos cuidados. O tempo passou e nós nem nos demos conta. Parece que foi ontem, que estávamos levando aquela surra ou aninhada em seus braços chorando de dor de ouvido ou ouvindo uma bela estória. Parece que foi ontem que estávamos pensando num jeito de fazer o que mais queríamos, que era cortar o cordão umbilical e sairmos pro mundo, sem nenhuma mãe por perto pra nos colocar rédeas curtas.
Hoje quando vejo minha mãe de cabeça branquinha, com aquele sorriso no rosto... Penso, em como a velhice adoça certas pessoas, em como a velhice lhes dá tolerância mesmo com toda impaciência peculiar da idade. A velhice é paradoxal e surpreendente. E quando se chega a ela com dignidade e cercada de amor... É muito mais leve!
Saudades de minha mãe de ontem, aquela que vejo refletida no espelho, quando olho pra mim mesma.
Feliz com minha mãe, agora meio filha, de hoje. Tão doce, compreensiva... Adoro quando ela alisa minhas mãos, meus braços... E sorri pra mim. Ou quando canta uma daquelas cantigas bem antigas e ingênuas... "Lá vem a Rita toda bonita... De braço dado com seu namorado. Fala baixo... Fala baixo... lá lá lá lá vem o delegaaaado"...