domingo, 20 de setembro de 2009

Crise de hormônios, dúvidas infinitas...


São tantas, as noites que ele arranja uma desculpa e sai por aí, sozinho, em busca de música e de  companhia, para partilhar conversas, cigarros, risadas... Provavelmente beijos e sexo. Ou outras experimentações lúdicas, místicas, telúricas, lisérgicas, etílicas...
Ela, por sua vez,  não sabe detectar perfumes estranhos em suas roupas  surradas, nem sinais ocultos, nem rastrear telefones ou olhares enviesados... Seu ponto fraco e seu ponto forte é a dúvida. Quando ele volta de madrugada, cheiro de bebida, e cansado abraça seu corpo meio dormido, ensaia algumas carícias, balbucia uns adjetivos sexuais... Surge ali o ponto fraco da dúvida. Ela se afasta e se fecha em concha. Lacrimeja e sorri silenciosamente enquanto mergulha em lembranças distantes, mas logo depois cai em sono profundo. E sonha com o tempo em que apenas se bastavam. Eram jovens, cúmplices e felizes.
O dia amanhece e ele retoma as investidas. Acaricia suas pernas, beija seu pescoço, pega sua mão e coloca em seu sexo, sussurra desejos, murmura palavras ininteligíveis, suspira um hálito quente em seu ouvido, insiste... Ela, naquele momento, sente na boca um gosto amargo de culpa, desconfiança, indiferença... Um gosto de solidão à dois, talvez. Ele não sabe com quem mais ela tem dividido aquela cama, travesseiros e lençóis... Ele nem sabe que Gregory Corso, John Fante, walt whitman ... Têm feito companhia a ela constantemente, frequentado aquele quarto todas as noites. Enquanto ele sai a procurar poesia nas ruas e bares.
Dividem um silêncio tenso e pesado. As mãos dele continuam ali, percorrendo caminhos áridos, terrenos inférteis tatuados pelo tempo. Veias, vasos, varizes, celulites e afins... Seus dedos ávidos tentando desvendar aquela vulva, umedecer seus grandes lábios secos, descortinar sensações que ela nem sabe mais por onde estão, perdidas em crises hormonais... Ela se sente pequena diante de tudo que pulsa ao seu redor, essa pulsação não a emociona, ela quer sentir alguma coisa que seja, que esquente seu corpo, que aqueça sua alma, que a resgate desse torpor indecifrável e estranho. Quer mergulhar num mar revolto, nadar se afogar. Emergir! Quer algo mais que dúvidas, algo mais que sexo e amizade... E passa batom,  para o próximo encontro com Whitman!