domingo, 25 de dezembro de 2016

Presenças, presas...

Presentes!  Eles podem ser caros e imponentes, como também sutis, simples, simplórios, mas  transformadores e preciosos...
Aquela mochila vagabunda e barata que te instiga à primeira viagem de carona, ou uma carteira comprada no camelô mas ofertada com tanto  amor e desejos bons, que acaba abrigando um passaporte rumo ao mundo. Um livro encardido que muda sua vida, um caderninho de capa bonita que inspira seus primeiros poemas, um incenso que te desperta o tao, um japa mala que te leva a Deus. Talvez você nem se toque, mas são tantos os toques que vêm do universo... Um verso com seu nome de um poeta amigo seu, uma flor cuja semente floresceu no seu jardim, uma muda de jasmim que enche de perfume sua casa, e um par de asas que sua mãe lhe deu... São tantas "prezas" simples, que enredam nossa vida nas teias do amor. Coisas que aparentam pouco valor, mas que saem do bolso da alma, e muitas vezes passam tão desapercebidas. E aquele presente feito pelas mãos de quem nos dá... Com tanto amor e energia, quase um patuá! Presentes ofertados de coração, é como amigo sincero, coisas pra se guardar... E não tem hora nem data nem tempo, presente é presença, é lembrança, é uma aliança entre o que recebe e o que dá... 

terça-feira, 18 de outubro de 2016

A mala

Quando viajamos pela primeira vez, normalmente carregamos uma mala grande, cheia de roupas para diversas ocasiões, alguns calçados para escolher em que momento usa-los, casacos só para prevenir, mesmo quando o lugar que vamos visitar esteja em pleno verão e apenas um xale ou um moletom resolveria. Necessaire cheia de produtos que muitas vezes derramam e melam toda a bagagem, e mais uma infinidade de coisas que achamos que serão indispensáveis... Na segunda viagem já aprendemos alguma lição. Da terceira em diante ficamos experts! Levamos apenas o essencial.
Na vida às vezes também é assim. Levamos uma mala pesada e cheia de mágoas, complexos, traumas, medos, sentimentos de rejeição, frases entaladas que nunca tivemos coragem ou oportunidade de pronunciar, rancores e afins Mas vamos amadurecendo e esvaziando a mala. Jogando no lixo da existência essas coisas que tornam pesada nossa bagagem e consequentemente atrapalham nossa viagem. Vamos priorizando afetos, amores, harmonia, alegrias e jogando fora os basculhos.

perdão

Todos nós temos um lado sombrio, outro iluminado... Somos os dois lados da mesma moeda. Alegria e tristeza, amor e ódio, erros e acertos, saúde e doença, fé e descrença, dúvidas e certezas, verdade e mentira, tempestade e calmaria... Yin e Yang! A grande alquimia é dosar os ingredientes para não estragar a receita. É não permitir que o fel contamine tudo, é estar atento e forte. É uma questão de manter "a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo"... Sei que não é fácil, é uma batalha do dia à dia. Eu não me eximo dos meus vacilos. Eles são tantos... Mas alimentar mágoas, gosto não! Uma reflexão antes de dormir vale muito a pena, especialmente pra gente perceber nossos próprios defeitos e não ficar colocando nos ombros dos outros culpas que também são nossas, ou culpas que nem sequer existem... Pedir perdão também é tão bom... Então, perdão, para quem está magoado comigo.

domingo, 16 de outubro de 2016

Espírito de pobre

Um dia uma pessoa me disse que eu tinha "espírito de pobre"... Eu lhe disse que por um lado eu sempre fui uma pessoa muito, muito rica. Tive sempre os maiores e mais bonitos quintais do mundo, por exemplo, o Recôncavo Baiano e seus campos de cogumelos, a imensidão do Tapajós, a prainha do pau rosa, as dunas do Maranhão... Me banhei nos mais belos rios que se pode imaginar, e sob a cabeça teto de estrelas... Vivi nos tronos do mundo, sempre fui rica, graças a Deus! Mas por outro lado sigo a risca a ideia de ganhar o pão com o suor do rosto, e sempre vou estar com um martelo (e uma foice, rsrsr) nas mãos, ou uma faca, ou uma tesoura, ou uma enxada, uma caneta ou um pincel, e rodeada de gente que como eu, trabalha... pano na cabeça, unhas sujas, cheirando a suor, tomando café com pão, dando risada, descalça, futucando lixo nas calçadas... Deve ser por isso o "espírito de pobre", coisa que eu tenho tanto orgulho... Ruim é ter espírito de porco!

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Alinhavando desperdícios...

Numa referência a Manoel de Barros, que usava as palavras para compor seus silêncios, e era, por elas,  iluminado, essa coleção alinhava desperdícios, metamorfoseia coisas, alquimiza um tanto... (Porque os alquimistas estão chegando, não para transformar metais, mas para transmutar conceitos e mentes, renovar o homem usando borboletas...) Lança mão da invencionática, Não tem regras, nem pudores, nem limites... Mas coração e asas! Respeita às coisas desimportantes, saboreia quintais maiores que o mundo, e está aparelhada para amar passarinhos... Às vezes poética, às vezes estranheza. É assim essa coleção! Em tempos sombrios, pinceladas de cores, surpresas, invencionices... E o avesso vira direito, e vice versa, e o que era defeito é um efeito. Passado é presente, futuro é presente. O tempo se relativiza aqui. "E nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", como dizia outro alquimista, o Lavoisier.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Carta a um viajante querido.

Vá, para onde teu coração te levar. Vá de alma leve, cara lavada, olhos abertos... Vá com teu escudo e com as minhas preces. Vá para vencer teus medos, juntar teus pedaços, para se conhecer melhor, se redescobrir, se desvencilhar de culpas, dores, amarras... E amadurecer! Vá ver para crer! Vá com fé e com os anjos e com todos os santos. Percorrer teus caminhos, singrar teus mares... Vá aberto para experienciar a vida e o que ela tem de melhor e mais belo. Vá com cuidado para não se machucar e caso se machuque saiba se cuidar e se curar. Vá procurar outras tribos, conhecer pessoas, trocar ideias, compartilhar...
Eu te dou uma bússola que aponta para o infinito e para o meu coração, que estará aqui, de portas abertas, eternamente. Vá, encharcado de amor e luz, e carrega contigo as memórias de tudo de bom que já viveu, e a lembrança sempre nítida daqueles que te amam e dividem a vida com você.
Eu te guardo nas minhas asas invisíveis, nas minhas rezas e nas minhas graças. Eu te entrego a Deus, ao universo, para que possas crescer e ser imenso, e tornar-se eterno.
Vá... E que teus pés te tragam de volta, inteiro e íntegro. Para nos contar muitas histórias e para alçar outros voos.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Primogênito!

Aos vinte e nove de janeiro de 1980, sob o signo de Aquarius, à luz da lua crescente,  nascia, às margens do Rio Tapajós, meu primeiro filho, a quem demos o nome de Benjamin, que hoje completa 36 anos de vida.
Em meio a tropeços, dificuldades, maus e bons momentos, vou tocando essa oportunidade que o universo me concedeu. Como todas as outras, não recebi nenhum manual de instruções, nenhuma bússola, nenhuma cartilha... Fui aprendendo a ser mãe ainda com os resquícios da adolescência. Aos trancos e barrancos, ora errando, ora acertando...
Dediquei minha juventude a essa "causa". Em alguns momentos considerei pesado o fardo, mas em outros momentos foi pura leveza, prazer e alegria. No fundo nunca perdi minha identidade para me consagrar apenas "Mãe". Talvez tenha sido negligente, permissiva, opressora, ausente... Talvez tenha falado demais ou de menos, talvez tenha fechado os olhos em algumas situações... Esse manual realmente faz falta! Se tivesse a maturidade que tenho hoje, teria sido diferente, teria sido melhor? Realmente não sei! Mas sei que fiz tudo que estava ao meu alcance, tudo que sabia e que podia. Eu dei o meu melhor! E me encho de felicidade em vê-lo assim, hoje. Um homem de boa índole, coração bom, gente do bem. Íntegro, honesto, companheiro, verdadeiro, correto, apaziguador, apaziguado, amadurecendo ainda... E agradeço aos céus esse presente!
Feliz aniversário, feliz sempre! Benjamin...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Essa tal felicidade

O que é mesmo essa tal felicidade? De uma coisa tenho certeza. A felicidade não é perene, não é constante... É algo que se constrói todo dia, toda hora, todo minuto. É a soma de tudo que produzimos, das nossas escolhas, das nossas atitudes, da nossa sanidade, dos nossos cuidados com nós mesmos e com os nossos afetos, e com tudo e todos que nos rodeiam. A felicidade é o resultado daquilo que plantamos. Ela é nossa colheita, nosso fruto precioso. Muitas vezes ao longo da nossa jornada encontramos terrenos muito férteis, e fáceis de arar. Outras vezes nos deparamos com terrenos improdutivos, onde quase nada brota, e isso requer muito trabalho e cuidado. Então a felicidade pode até se extinguir por um certo momento, a espera de uma boa chuva, de um novo tempo para rebrotar...
Quase todos os dias sopram ventos de angústia, agonia, medos e incertezas sobre nossas cabeças. Quase todos os dias somos surpreendidos por uma nuvem de temores, equívocos, baixo astral... Onde tudo parece dar errado. E partimos sempre em busca da tal felicidade. Mas não existe um caminho para a felicidade, ela é o próprio caminho. Ela está nas pequenas coisas, nos pequenos gestos. Numa palavra que escutamos, numa caixa de chocolate, num projeto de vida, no vento que sopra nosso cabelo, na água fria da cachoeira, na serenidade do mar, ou no mar revolto. Nas nossas conquistas, nos nossos planos e sonhos e delírios. A felicidade está dentro de nós. Às vezes tão escondida que nem a percebemos. Acho que vem daí aquela frase comum: "Nós éramos felizes e nem sabíamos"... A felicidade está na alegria, na amizade, no amor, no lazer, no labor, na vida! Como dizia Schopenhauer (que nem gosto tanto, rsrss) "A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos". Mas Freud também dizia "A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz". E eu vos digo: Seja feliz! Eu, por mim, só quero é ser feliz. Eu gosto dessa tal felicidade! Quem quiser que ache piegas, ou que atire a primeira pedra...