quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Como eram leves meus desesseis anos...

As vezes, antes de dormir, quando os devaneios cavalgam  carneirinhos brancos, pulando a cerca das lembranças, e trazendo de volta tantos afetos guardados, momentos mágicos, que um dia foram o presente, e que agora são  imagens guardadas nas paredes da memória. Mas que de vez em quando cavalgam carneirinhos brancos e voltam pra nós…
Então fico aqui, debaixo dos lençois, deixando que essas imagens venham suavemente, e que de alguma maneira se materializem diante de mim,  e me envolvam nessa aura translúcida  de juventude e passado,  sensações,  aromas,  lembranças,  memórias,  afetos…
Me lembro dos meus desesseis, carregados nas costas,  espalhados na mochila, fluindo pelos póros… Como eram leves! Como eram livres, meus desesseis anos…
Andarilhava pela imensidão das praias do sul da bahia. tão vazias, tão lindas… Ao lado de amigos, jovens e belos e livres como eu. Buscávamos nada mais que não fosse,  viver o momento. Aquele momento e pronto!
Não queríamos  mais nada, além de sonhar,  amar,  e viajar para dentro de nós mesmos, ao som de Pink Floyd, Rolling Stones, Mutantes, Novos Baianos… Atrás de paz, talvez! Pois a espada da rebeldia, da inquietude, dos questionamentos, das  transgressões… pairavam sobre nossas cabeças,  ávidos por sangue novo!
Paz e espada viviam à nossa espreita…
Mas como eram leves em minhas costas,  aqueles desesseis anos… De sonhos, delírios,  amores, paz, rebeldia, liberdade, cigarros e som, muito som…
Ainda sonho, e acredito nos delírios e na rebeldia. Mesmo que os anos já não me sejam mais tão leves…  São ainda livres! Livres!

Tempo, ah! Esse tempo...

Esse tempo que não me pertence, mas pesa em meus ombros, me aperta a garganta, me esmaga o estômago, deixa em minha boca um gosto de não sei o quê... É o mesmo tempo que me fazia esquecer tudo, passava por mim devagar, silencioso, imperceptível, quase mudo, enquanto eu brincava de voar como borboletas no quintal.
É o mesmo tempo que embalava minha rede por horas a fio, compreensivo, misterioso, sem pressa, e dava um ar de eternidade a minha infância distante, agora quase perdida no emaranhado da minha memória que se esvai.
Esse tempo, senhor tão bonito, constante, inflexível, implacável, traiçoeiro... Agora me deixa sorve-lo apenas em goles pequenos , quase homeopáticos. Por vezes se descortina, se desnuda todo faceiro, enquanto durmo um sono leve e efêmero.  E no dia seguinte me olha com desdém, como quem diz: Aproveite, pois escorro-lhe pelos dedos, não pertenço a ti nem a ninguém senão a mim mesmo.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Liberdade, liberdade...




As pessoas querem liberdade, ainda que seja para mira-la através de vidros blindados. Querem democracia, mesmo que não saibam escolher quem as represente, querem presentes, querem propinas, querem aquilo que não têm, e querem cada vez mais aquilo que já possuem. As pessoas querem o direito de ir e vir mesmo que carreguem algemas nos pés, querem voar de asas partidas... Querem voz, ainda  que não sejam ouvidas, querem casa e comida, pão e circo. Querem correr o risco! As pessoas querem saúde, educação, dignidade, respeito! Querem bater no peito e dizer " sou free", as pessoas não querem sofrer, não querem seus filhos fumando pedra, não querem pedras em seus sapatos, não querem ratos roubando seu queijo, não querem malfazejos nem almas sebosas à espreita nas esquinas, não querem suas meninas e meninos sendo prostituídos, não querem seus mares e rios poluídos, nem suas casas inundadas, suas vidraças quebradas, nem suas vidas ameaçadas. As pessoas não querem suas fronteiras invadidas, sua cultura adulterada. As pessoas querem vergonha na cara! Querem mudanças, e danças e música, arte, balé... Querem Aché, Santeria, Candomblé, Cristo, Buda, Maomé! Querem fé e querem festa, querem mel e querem mais! Mais opções de trabalho e melhores salários, mais escolas e melhores escolhas, mais hospitais e menos doentes, mais penitenciárias e menos deliquentes, mais espectativas de vida e menos mortalidade infantil. Mais estradas e mais sonhos... Mais utopia, para continuarem caminhando!