domingo, 10 de outubro de 2010

Os baús da nossa história...


Ela guardava nossa história em gavetas, guarda-roupas, malas, baús... Guardava nossas lembranças, nossos sonhos, nossos objetos de estimação, nossas relíquias... Até revistas e jornais ela guardava!
Ela colecionava vidros, pedacinhos de papéis com receitas que nunca foram feitas, endereços jamais visitados, lenços com cheiro de lágrimas, óculos que viram tantas coisas...
Ela guardava afetos assim como mágoas, guardava as tempestades em copos d'água, e doses alopáticas de rancores e medos. E disfarçada, guardava as suas próprias dores.
Mas nossa história pulsava ali, solitária, escondida nos baús antigos, carcomidos pelo tempo. Nossa história estava empoeirada, mas inteira, íntegra, legível, intocável. Como as toalhas e lençóis que ela bordava.
Nossas lembranças e afetos entrelaçavam-se nas meadas multicores esmaecidas, retalhos de linho brancos amarelados, papéis de seda com flores desenhadas, roupas velhas tão novas... Nossas memórias perdidas nos fundos dos baús, ansiavam por plateias, buscavam suas personagens, ávidas por resgatar seu roteiro e se expor por inteiro. Nossas memórias estavam vivas e nítidas. Nossa história fora construída com amores, afetos, dores, alegrias, tristezas, dificuldades, conquistas, sonhos, brigas, rancores, e sobretudo com coragem e uma boa pitada de humor.
As gavetas, malas e baús que guardavam nossa história, foram abertos, nossas lembranças e afetos resgatados, relembrados, revividos de relance, em tons ora alegres, ora tristes, ou apenas nostálgicos...
Agora eu a compreendo melhor. Eu a vejo bordando nossa história, remendando os retalhos, colando os cacos quebrados, morrendo de medo de tudo se deteriorar, envelhecer e se perder, engolido pelo tempo.
Então ela guardava tudo nas gavetas, guarda-roupas, malas, baús... E não deixava ninguém mexer. Essas coisas estavam fadadas ao esquecimento e curiosidade, até o dia em que ela não estivesse mais aqui...

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